O avanço digital no mercado de trabalho já está em movimento há anos, mas 2020 fez com que essa mudança fosse acelerada consideravelmente. Como resultado, empresas agora buscam ainda mais por profissionais digitais, ou seja, capacitados para atuar com as novas tecnologias e para assimilar as novidades em termos de público, processos e cultura organizacional.
Com a velocidade da transformação digital, poucas pessoas conseguiram se atualizar no mesmo ritmo. Isso cria um buraco nos processos seletivos: empresas buscam um tipo de colaborador que ainda não aparece em grande volume. No ano passado, enquanto diversos setores foram afetados pela crise, os setores de TI e Comunicação abriram 54 mil novos postos de trabalho, segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). A estimativa da entidade é que o mercado precise de 70 mil novos profissionais por ano nessas áreas até 2024.
Esses números entram em contraste com a taxa de cerca de 14% de desemprego no Brasil. Até mesmo setores mais tradicionais, como Recursos Humanos, vêm buscando por profissionais inclinados para a digitalização. Quem explica essa movimentação é o sócio e diretor de operações da agência full digital ROCKY, Luiz Fernando Ruocco: “Estou observando uma escassez de profissionais digitais, agora mais do que nunca, para desempenhar determinadas funções que as empresas antes não davam tanta atenção. Só que o momento em que vivemos mostrou a importância do digital e, para muita gente, não há mais razão para voltar ao que éramos antes da pandemia.”
A solução para esse problema é uma via de mão dupla. Por um lado, as empresas precisam implementar uma cultura de aprendizado, dando espaço para que as pessoas se desenvolvam enquanto atuam. Por outro, os trabalhadores devem investir em educação e treinar determinadas competências para se adaptar mais facilmente ao novo mercado.
“É importante dar espaço para tentativa e erro dentro das companhias”, afirma Ruocco, “Ao mesmo tempo, os profissionais devem demonstrar que podem adquirir as habilidades certas com o tempo. Isso vale mesmo para quem já está dentro de uma empresa e busca um cargo diferente, ou vê oportunidades de transformação digital que não foram aproveitadas.”
Para ajudar nesse desafio, o especialista listou algumas competências que são essenciais para o trabalho no meio digital, prioridades até maiores que o uso de ferramentas próprias da área.
Disposição para aprender
Mesmo os profissionais mais experientes continuam estudando e se atualizando. Na verdade, essa é uma das características mais valorizadas ao redor do mundo, inclusive no Brasil. De acordo com uma pesquisa do instituto Gallup, “disposição para aprender” está entre as qualidades mais citadas pelos trabalhadores nos Estados Unidos, Austrália, Canadá e China.
O meio digital está sempre evoluindo e é fundamental acompanhá-lo. Por isso, o aprendizado nunca acaba realmente e é importante ter interesse em descobrir mais o tempo todo. Não é à toa que esse seja um talento tão apreciado em diversos países.
Versatilidade
Acompanhar a evolução digital não significa apenas andar em uma linha reta. Frequentemente é preciso pegar atalhos, contornar novos problemas e buscar soluções ainda não imaginadas. O segredo é ser versátil para explorar todo o campo de ideias que venham a surgir.
Essa é uma competência tão importante que há um movimento de instituições educacionais para inserir a versatilidade como parte dos programas e avaliações em pós-graduações, como conta a revista Pesquisa da FAPESP. Para quem não vai seguir carreira acadêmica, essa é uma habilidade fundamental.
Autogestão
Com tudo se movendo na velocidade máxima, as decisões precisam ser tomadas rapidamente. O mercado procura por pessoas que consigam fazer isso e que agilizem processos internos. Um exemplo do porquê está em uma pesquisa realizada pelo departamento de tecnologia do governo de Washington, EUA, que mostrou que o tempo médio para resolver problemas caiu 93% depois que começaram a adotar práticas de autogestão.
Perfil analítico
A análise de dados é uma grande parte da atuação no digital. Tudo que é feito nesse sentido pode e deve ser monitorado, metrificado e analisado, para chegar a melhores resultados e corrigir erros. Não por acaso, essa também é uma das qualidades citadas no estudo do Gallup. Entretanto, no Brasil, ela fica na 10ª posição, então há bastante espaço para melhorar.
Comunicabilidade
Além de facilitar processos, a transformação digital acontece também no marketing, no atendimento e na própria comunicação interna. Ferramentas digitais podem reduzir as falhas de comunicação, que causam estresse e ineficácia nas tarefas, como conta um levantamento de 2019 realizado pela Dynamic Signal.
Ou seja, saber se relacionar pelos meio dos meios digitais é essencial, seja com o público ou entre colegas. A digitalização facilita, mas ainda é necessário aptidão pessoal para usar as ferramentas corretamente.
Ruocco finaliza dizendo que são competências como essas que tornam alguém mais facilmente adaptável. “Adaptabilidade é a palavra do futuro. Estude, determine o caminho para onde você quer direcionar sua carreira, e esteja preparado para as mudanças durante a jornada”, finaliza.